Dificuldades da
Aprendizagem:
Ligadas às funções da memória, da
concentração, atenção, habilidades de leitura/escrita, da fala, raciocínio
matemático, psicomotoras, viso espaciais, com ênfase também nos Transtornos
ou Distúrbios de Aprendizagem e Comportamento.
Transtornos ou Distúrbios de Aprendizagem:
Dislexia
Dislexia
é um transtorno genético e hereditário da linguagem, de origem
neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade de decodificar o
estímulo escrito ou o símbolo gráfico. A dislexia compromete a
capacidade de aprender a ler e escrever com correção e fluência e de
compreender um texto. Em diferentes graus, os portadores desse defeito
congênito não conseguem estabelecer a memória fonêmica, isto é, associar
os fonemas às letras.
De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia, o transtorno
acomete de 0,5% a 17% da população mundial, pode manifestar-se em
pessoas com inteligência normal ou mesmo superior e persistir na vida
adulta.
A causa do distúrbio é uma alteração cromossômica hereditária, o que
explica a ocorrência em pessoas da mesma família. Pesquisas recentes
mostram que a dislexia pode estar relacionada com a produção excessiva
de testosterona pela mãe durante a gestação da criança.
Sintomas
Os sintomas variam de acordo com os diferentes graus de gravidade do
distúrbio e tornam-se mais evidentes durante a fase da alfabetização.
Entre os mais comuns encontram-se as seguintes dificuldades: 1) para
ler, escrever e soletrar; 2) de entendimento do texto escrito; 3) para
de identificar fonemas, associá-los às letras e reconhecer rimas e
aliterações; 4) para decorar a tabuada, reconhecer símbolos e conceitos
matemáticos (discalculia); 5) ortográficas: troca de letras, inversão,
omissão ou acréscimo de letras e sílabas (disgrafia); 6) de organização
temporal e espacial e coordenação motora.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por exclusão, em geral por equipe
multidisciplinar (médico, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo,
neurologista). Antes de afirmar que uma pessoa é disléxica, é preciso
descartar a ocorrência de deficiências visuais e auditivas, déficit de
atenção, escolarização inadequada, problemas emocionais, psicológicos e
socioeconômicos que possam interferir na aprendizagem.
É de extrema importância estabelecer o diagnóstico precoce para
evitar que sejam atribuídos aos portadores do transtorno rótulos
depreciativos, com reflexos negativos sobre sua auto-estima e projeto de
vida.
Tratamento
Ainda não se conhece a cura para a dislexia. O tratamento exige a
participação de especialistas em várias áreas (pedagogia,
fonoaudiologia, psicologia, etc.) para ajudar o portador de dislexia a
superar, na medida do possível, o comprometimento no mecanismo da
leitura, da expressão escrita ou da matemática.
Recomendações
* Algumas dificuldades que as crianças podem apresentar durante a
alfabetização só ocorrem porque são pequenas e imaturas e ainda não
estão prontas para iniciar o processo de leitura e escrita. Se as
dificuldades persistirem, o ideal é encaminhar a criança para avaliação
por profissionais capacitados;
* O diagnóstico de dislexia não significa que a criança seja menos
inteligente; significa apenas que é portadora de um distúrbio que pode
ser corrigido ou atenuado;
* O tratamento da dislexia pressupõe um processo longo que demanda persistência;
* Portadores de dislexia devem dar preferência a escolas preparadas para atender suas necessidades específicas;
* Saber que a pessoa é portadora de dislexia e as características do
distúrbio é o melhor caminho para evitar prejuízos no desempenho escolar
e social e os rótulos depreciativos que levam à baixa-estima.
Dr. Drauzio Varella
dislexia,disortografia
Gagueira
Gagueira é uma perturbação da fala, de origem
psicomotora, que se caracteriza por repetição de sons e sílabas ou
paradas involuntárias, ou seja, por interrupção da fala por
inseguranças, excitações e bloqueios em todas as situações de
comunicação, inclusive na leitura. Gaguejar diante do chefe, ao
apresentar uma desculpa pelo atraso é muito diferente de fazê-lo na
rotina do dia-a-dia, ler um texto em voz alta ou pedir pão na padaria.
Causas
A gagueira é um distúrbio multifatorial. Pode ter origem genética, orgânica, psicológica e/ou social.
Sintomas
* Repetição ou prolongamento de sons e sílabas;
* Bloqueio de sons;
* Uso de interjeições para fazer a conexão entre as palavras;
* Simplificação de frases;
* Movimentos corporais para ajudar a liberar os sons ou silabas bloqueados.
Tratamento
Os tratamentos fonoaudiológicos procuram enfocar a aprendizagem
motora de técnicas a serem usadas durante a fala; os tratamentos
psicológicos tendem a enfocar os aspectos emocionais que interferem na
fala da pessoa que gagueja. Eles são considerados tratamentos
complementares e sua eficácia depende da base teórica que os fundamenta,
do profissional que os aplica e também da pessoa que gagueja.
Recomendações
* Não se acanhe nem deixe de expressar o que pensa ou o que sente se você gagueja;
* Procure valer-se dos artifícios que ajudam a diminuir os sintomas da gagueira.
* Use interjeições, substitua as palavras que de antemão sabe que tem
dificuldade para pronunciar por outra equivalente, construa frases
menos elaboradas;
* Leve a sério o tratamento. Não deixe de comparecer às sessões de fonoaudiologia nem às que visam ao atendimento psicológico.
Dr. Drauzio Varella
Transtornos ou Distúrbios de Comportamento:
Déficit de atenção/Hiperatividade (TDAH):
Mario Louzã é médico,
coordenador do PRODATH, Projeto de Déficit de Atenção e Hiperatividade
do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de
São Paulo.
Meu filho não para quieto nem para comer. Desde o
instante em que se levanta até a hora em que vai dormir, anda de um lado
para o outro, pula, sobe nos móveis, derruba as cadeiras que encontra
pelo caminho, corre pela casa. Seu quarto é um verdadeiro caos. Espalha
roupas e objetos, mesmo aqueles que não está usando no momento, revira
as gavetas, não fecha as portas dos armários.
No colégio, então, é um terror. Sua agitação incomoda os colegas e
prejudica os relacionamentos. A desatenção e a inquietude interferem
também no rendimento escolar. Não termina as lições, comete erros
grosseiros nos exercícios e redações, esquece conteúdos que dominava
satisfatoriamente um dia antes, rasga a folha da prova de tantas vezes
que apaga as respostas.
Geralmente, essas queixas caracterizam os portadores do transtorno de
déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), uma doença que acomete as
crianças, mas que pode prosseguir pela a vida adulta, comprometendo o
desempenho profissional, familiar e afetivo dessas pessoas.
Sintomas e diagnóstico
Drauzio – Em geral, as crianças são travessas e desatentas.
Como se estabelece o limite entre a desatenção e inquietude próprias da
idade e o comportamento potencialmente patológico?
Mario Louzã – À medida que a criança vai crescendo,
aumenta o nível de exigência sobre ela. No entanto, o típico é o
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ficar evidente
quando ela vai para a escola. Normalmente, a criança consegue permanecer
sentada na carteira da sala de aula, prestar atenção no que a
professora fala, tomar nota, fazer exercícios e aprender as lições. A
hiperativa, no entanto, com déficit de atenção não para quieta e comete
erros por distração. Muitas vezes, fica evidente que ela sabe a matéria,
mas não acerta as repostas, porque está distraída.
Existem casos mais leves da doença que eventualmente podem ser
contornados apenas com medidas pedagógicas e há os mais graves que
exigem tratamento medicamentoso.
Drauzio – Quem percebe primeiro o problema? Os pais em casa ou a professora na escola?
Mario Louzã – Para fazer o diagnóstico de déficit de
atenção e hiperatividade, os sintomas precisam manifestar-se em dois
ambientes distintos. Em geral, eles ocorrem em casa e na escola. A mãe,
que geralmente acompanha a criança nos deveres de casa, percebe a
agitação e a demora para fazer as tarefas. A professora nota o mesmo
comportamento na escola. Por isso, pais e professores são bons
informantes para ajudar o médico que observa a criança no consultório.
Drauzio – O déficit de atenção sempre começa na infância ou pode instalar-se mais tardiamente?
Mario Louzã – Por definição, a criança já nasce com a
doença, tanto que para fazer o diagnóstico em outras fases da vida é
preciso investigar como foi a evolução da enfermidade na infância.
O TDAH jamais se inicia quando o indivíduo é adulto. Ao contrário. Em
geral, evolui com melhora dos sintomas, tanto que até alguns anos atrás
acreditava-se que desaparecia com o crescimento. Hoje se sabe que,
apesar de diminuírem o número e a intensidade dos sintomas nos
adolescentes e adultos, parte das crianças continua com o problema por
toda a vida e apresenta as dificuldades decorrentes da doença.
É importante lembrar que, quando se fala hiperatividade, estamos nos
referido a dois sintomas agregados: a hiperatividade propriamente dita e
a impulsividade.
Drauzio – Você poderia explicar o que isso significa?
Mario Louzã – Basicamente na criança, a
hiperatividade está ligada à motricidade, aos movimentos. É a criança
agitada, que não para quieta um segundo sequer, com o bicho carpinteiro,
como dizem as pessoas. Já a impulsividade se caracteriza pelo agir sem
pensar. Crianças hiperativas se machucam mais, sofrem mais acidentes,
porque são intempestivas. Não têm paciência nenhuma, interrompem quem
está falando, intrometem-se na conversa alheia. Esse é um sintoma que se
manifesta também nos adolescentes e adultos.
Drauzio – Vocês falam déficit de atenção/hiperatividade. Essas duas coisas estão sempre associadas?
Mario Louzã – A síndrome tem esses dois sintomas
básicos. Pode predominar um deles, mas em boa parte dos casos tanto o
déficit de atenção quanto a hiperatividade estão presentes.
TDAH nos adultos
Drauzio – Você recebe um adulto que se queixa de ser muito
distraído e que isso está atrapalhando sua vida. No entanto, o problema
passou despercebido na infância e adolescência. Como você encaminha o
diagnóstico nesse caso?
Mario Louzã – Essa é uma situação bastante comum. Há
pessoas com déficit de atenção e hiperatividade que passam a vida toda
sem terem sido diagnosticadas. Dá para imaginar quantos obstáculos
precisaram vencer para chegar à universidade, por exemplo?
Na verdade, as queixas dos adultos são as mesmas das crianças:
distração, dificuldade para concentrar-se, baixo rendimento no trabalho,
impulsividade. Agem sem pensar e depois se arrependem do que fizeram.
O primeiro passo para o diagnóstico nessa faixa de idade é levantar
uma história e tentar obter o máximo possível de dados sobre a infância
da pessoa. É importante saber se, na escola, a professora reclamava de
sua indisciplina, se era desorganizada, apresentava lições mal feitas,
tinha os cadernos soltos, bagunçados e o material em desordem.
Nem sempre é fácil conseguir tais informações. Às vezes, a própria
pessoa não tem lembrança clara de como eram as coisas. Uma saída é
recorrer a informantes que lhe sejam próximos. Se os pais estão vivos,
podem ser fonte importante de consulta.
Para o diagnóstico, levam-se em conta também as queixas atuais: o
trabalho que não rende, a dificuldade para concentrar-se na leitura de
um texto mais longo ou realizar as tarefas do dia a dia, o incômodo por
ficar sentada numa reunião mais prolongada ou monótona, a dificuldade
para assistir a uma aula na faculdade ou a um curso que exija
concentração e permanência numa posição constante. Tudo isso somado ao
fato de que se esquece dos compromissos e de pagar as contas. Delinear
esse conjunto de dados possibilita reconhecer um quadro de déficit de
atenção e hiperatividade no adulto.
Drauzio – Esses dados que você citou são queixas que se ouvem
muito no mundo moderno. As pessoas reclamam que não rendem no trabalho,
não se concentram porque os estímulos são muitos e não têm paciência
para reuniões prolongadas. Como profissional, o que lhe permite
estabelecer a diferença entre o comportamento que resulta das
atribulações da vida e o que é realmente patológico?
Mario Louzã – Existem de fato
alguns casos que estão no limite entre o que seria, digamos, o esperado
para a população adulta no momento e o patológico que exige tratamento.
Vale destacar que, no adulto, a dificuldade e as queixas vêm da
infância. Mais velho, quando o quadro da doença é bem definido, ele se
compara com seus pares e percebe que os colegas fazem o mesmo trabalho
na metade do tempo, não esquecem a maioria dos compromissos, não
atrasam. Já ele é um atrasado contumaz, um desorganizado. A conta está
em cima da mesa, mas ele se esquece de levá-la e perde o prazo do
pagamento. Não são coisas que acontecem de vez em quando. Acontecem
sempre e passam a sensação de fracasso constante, de rendimento inferior
à real capacidade de produzir.
Papel da genética
Drauzio – Há maior concentração de casos desse transtorno em determinadas famílias?
Mario Louzã – A genética tem papel importante na
incidência do TDAH, embora sozinha não seja suficiente para explicar a
doença. Quando se rastreia a família de um paciente, é muito comum
encontrar outros casos de déficit de atenção e hiperatividade. Às vezes,
enquanto fazemos o diagnóstico de uma criança, os pais percebem que
também foram ou são portadores daqueles sintomas e os prejuízos que
podem ter causado em suas vidas.
Drauzio – Além da genética, quais são os outros fatores implicados?
Mario Louzã – Os fatores ambientais são menos
conhecidos. Imagina-se serem fatores que atuem de alguma forma no
sistema nervoso central, no cérebro, na fase de desenvolvimento
embrionário ou talvez no início da vida. No entanto, eles não foram
claramente definidos.
Drauzio – É possível estabelecer algum tipo de alteração morfológica no cérebro associada ao TDAH?
Mario Louzã – Existem trabalhos que mostram
diferenças em áreas do cérebro nas crianças com TDAH, se comparadas com
um grupo de crianças sem a doença. Entretanto, é importante salientar
que o diagnóstico é eminentemente clínico, baseado nas queixas da pessoa
e em sua história de vida. Exames radiológicos, raios X, tomografia ou
eletroencefalograma (exame pedido com muita frequência) não ajudam a
esclarecer o diagnóstico, seja em crianças, seja em adultos.
Associação com outras doenças
Drauzio – O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
pode estar associado a outros distúrbios psiquiátricos como depressão
ou transtorno bipolar?
Mario Louzã – Pode. É típico do TDAH estar associado
a outras doenças qualquer que seja a faixa de idade do paciente. Nas
crianças, além da ansiedade, aparecem os transtornos de conduta que não
decorrem só da distração. São dificuldades de aprendizado específicas
como dislexia (dificuldade para compreender o que lê), disgrafia
(dificuldade para escrever), discalculia (dificuldade para fazer
cálculos).
Nos adolescentes, o problema maior é a tendência ao abuso de drogas.
Não existe uma explicação clara para o fato. Os estudos mostram, porém,
que a partir da adolescência o uso de drogas nos portadores de TDAH é
mais frequente, se comparados com os indivíduos sadios.
Drauzio – Algum tipo específico de droga?
Mario Louzã – Não existe especificidade. A tendência é ao abuso de drogas em geral.
Drauzio – Imaginei que talvez a maconha fosse a droga de
predileção desses pacientes, porque a cocaína os deixaria mais agitados
ainda.
Mario Louzã – Por estranho que pareça, o consumo de
cocaína é comum entre eles. Sob a ação da droga, ficam mais atentos,
mais concentrados. Aí, entra um aspecto interessante dessa doença. Os
estimulantes diminuem a hiperatividade e a desatenção tanto que o
tratamento é feito com uma medicação que contenha esse tipo de
substância.
Tratamento
Drauzio – Você recebe um adulto muito agitado, com
dificuldade de concentração, baixo rendimento no trabalho e a cabeça
girando com múltiplos problemas. Ele conta que isso acontece desde a
infância. Qual o primeiro passo para dar início ao tratamento?
Mario Louzã – Fechado o diagnóstico de TDAH, é
preciso examinar se não existem outras doenças associadas. Nos adultos,
as mais frequentes são ansiedade e depressão e o tratamento vai depender
de como esses fatores combinam.
Nessa faixa de idade, o tratamento medicamentoso associado à
abordagem psicoterápica ajuda a controlar a doença. O mais comum é
prescrever psicoestimulantes (no Brasil há um único medicamento com essa
característica) e alguns antidepressivos.
Na infância, o tratamento é mais complexo e envolve frequentemente
equipe multidisciplinar, pois requer também a aplicação de medidas
pedagógicas e comportamentais.
Drauzio – A medicação é usada por quanto tempo?
Mario Louzã – Se o paciente é uma criança, o ideal é
acompanhar a evolução do caso para ver se há melhora com o crescimento.
Estudos mostram que até a idade adulta os sintomas diminuem e que, em
metade dos portadores de TDAH, desaparecem espontaneamente. Se
persistirem no adulto, provavelmente o quadro estará estabilizado.
Como não faz muito tempo que os adultos portadores de TDAH estão
sendo estudados, temos pouca informação de como evoluem até os 70 ou 80
anos. No entanto, a hipótese é que os sintomas continuam sempre os
mesmos por toda a vida. Desse modo, pode-se afirmar que o tratamento
deve ser mantido indefinidamente.
Drauzio – Os medicamentos disponíveis para TDAH provocam efeitos colaterais?
Mario Louzã – De maneira geral, os efeitos
colaterais são leves e ocorrem no início do tratamento. Depois, o
organismo se ajusta e é boa a tolerância aos medicamentos.
Drauzio – O paciente nota logo os efeitos benéficos dos medicamentos?
Mario Louzã – Isso depende do medicamento que está
sendo usado. Geralmente, em algumas semanas, o paciente percebe melhora
na atenção e na capacidade de ficar sentado. Percebe que passou a
produzir melhor no trabalho e a não cometer os erros que cometia antes.
TDAH é uma doença psiquiátrica cujo tratamento dá resultados bastante
satisfatórios nas crianças, adolescentes e adultos.
Drauzio – Não parece paradoxal tratar uma pessoa hiperativa com remédios psicoestimulantes?
Mario Louzã – Soa paradoxal, mas atende ao que se
supõe ser o mecanismo da doença: a falta de uma ação inibitória do
sistema nervoso central sobre algumas áreas. Portanto, quando se
estimula a inibição, aumenta o controle da atenção, da atividade motora e
da impulsividade.
Drauzio – Você disse que o tratamento envolve uso de
medicamentos e psicoterapia. Qual é o objetivo da psicoterapia nesses
casos?
Mario Louzã – Nos adultos, a psicoterapia não visa
exatamente à doença, mas à pessoa que tem déficit de atenção e
hiperatividade. O que acontece frequentemente é que sua história de vida
é marcada por insucessos acumulados ao longo dos anos. São falhas no
dia a dia, mau desempenho escolar, repetência, suspensões. Depois, vêm
problemas no trabalho e na organização das atividades. A longo prazo,
isso gera um sentimento de fracasso muito grande, faz cair a autoestima e
pode trazer dificuldades para lidar com situações emocionais.
Incidência nos dois sexos
Drauzio – Como é a distribuição da doença entre os gêneros, ou seja, entre homens e mulheres?
Mario Louzã – Pode-se dizer que, na infância, há
prevalência dos meninos sobre as meninas. No entanto há os que discutem
essa afirmação, alegando que TDAH fica mais evidente nos meninos, porque
eles são naturalmente mais hiperativos e incomodam mais do que as
garotas. Argumentam, ainda, que elas tendem mais à distração, sem
apresentar o componente da hiperatividade. Desse modo, nelas, o risco de
que o problema passe despercebido é maior.
O fato é que estudos epidemiológicos feitos em clínicas que recebem
esses pacientes revelam a prevalência um pouco maior da doença nos
meninos. Quando chega a idade adulta, porém, a incidência de TDAH é
aparentemente igual nos dois sexos.
Considerações finais
Drauzio – Que dicas você dá aos portadores de TDAH?
Mario Louzã – Muitas vezes, as pessoas não
reconhecem suas falhas de atenção como uma doença passível de
tratamento. Elas as incorporam como características de personalidade,
como seu jeitão de ser. Admitir que possam ser sintomas de uma doença é
o primeiro passo para buscar ajuda e tratamento e contornar o problema.
Além disso, é fundamental criar estratégias para compensar a
desorganização natural e a falta de atenção dessas pessoas. Quanto mais
rotineiras e sistemáticas forem, melhor será seu desempenho nas
diferentes áreas.
De modo geral, os adultos com déficit de atenção e hiperatividade já
desenvolveram algumas técnicas para lidar com as próprias dificuldades.
Como sabem que são distraídos, anotam com cuidado os compromissos na
agenda, criam hábitos como deixar os objetos sempre no mesmo lugar e
estabelecem determinadas rotinas na vida.
Em relação às crianças, desenvolver essas atitudes comportamentais
irá ajudá-las a organizar-se melhor. Outra dica importante é reconhecer
os danos à autoestima que a doença provocou e procurar uma abordagem
psicológica.
Dr. Drauzio Varella
Transtorno de ansiedade de separação
Caracteriza-se por ansiedade excessiva em relação ao afastamento dos
pais ou seus substitutos não adequada ao nível de desenvolvimento, que
persiste por no mínimo quatro semanas. Os sintomas causam sofrimento
intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas da vida da
criança ou do adolescente (6).
Essas crianças ou adolescentes, quando sozinhos, temem que algo possa
acontecer a seus pais ou a si mesmos (doenças, acidentes, sequestros,
assaltos), que os afaste definitivamente daqueles. Como consequência,
apegam-se excessivamente a seus cuidadores, não permitindo seu
afastamento. Em casa, resistem a dormir, necessitando de companhia
constante. Frequentemente, têm pesadelos que versam sobre seus temores
de separação. Recusa a frequentar a escola também é comum nesses
pacientes (10, 24). A criança deseja ir à escola, demonstra boa
adaptação prévia, mas apresenta intenso sofrimento quando necessita
afastar-se de casa.
As descrições acima expostas comumente são acompanhadas de
manifestações somáticas de ansiedade, tais como dor abdominal, dor de
cabeça, náusea e vômitos. Crianças maiores podem manifestar sintomas
cardiovasculares como palpitações, tontura e sensação de desmaio. Esses
sintomas prejudicam a autonomia da criança e podem restringir suas
atividades acadêmicas, sociais e familiares, gerando grande estresse
pessoal e familiar. Sentem-se humilhadas e medrosas, o que resulta em
baixa autoestima.
Estudos retrospectivos sugerem que a presença de ansiedade de
separação na infância é fator de risco para o desenvolvimento de
diversos transtornos de ansiedade, entre eles, os transtornos do pânico e
o de humor na vida adulta (25).
4.1.1. Tratamento
A abordagem cognitivocomportamental utilizada em crianças que se
recusam a ir à escola por medo de separar-se de sua mãe e/ou de seu pai
preconiza o retorno à escola (exposição-alvo). No entanto, essa
exposição deve ser gradual para permitir que ocorra a habituação à
ansiedade, respeitando as limitações da criança e seu grau de sofrimento
e comprometimento. Deve haver, também, sintonia entre a escola, os pais
e o terapeuta quanto aos objetivos, conduta e manejo. As intervenções
familiares objetivam conscientizar a família sobre o transtorno,
auxiliá-la a aumentar a autonomia e competência da criança e reforçar
suas conquistas (16).
Intervenções farmacológicas são necessárias quando os sintomas são
graves e incapacitantes, embora haja estudos controlados documentando
que seu uso seja limitado. O uso de antidepressivos tricíclicos, como a
imipramina, mostra resultados controversos. Os benzodiazepínicos, apesar
de poucos estudos controlados que avaliem sua eficácia, são utilizados
para ansiedade antecipatória e para alívio dos sintomas durante o
período de latência dos antidepressivos. Os inibidores seletivos da
recaptura de serotonina (ISRS) podem ser efetivos para alívio dos
sintomas de ansiedade, sendo considerados medicação de primeira escolha
devido a seu perfil de efeitos colaterais, sua maior segurança, fácil
administração e quando há comorbidade com transtorno de humor.
Recentemente, a fluvoxamina e a fluoxetina, ISRS, mostraram-se eficazes
para o tratamento do TAS a curto prazo (16, 26, 27).
4.2. Transtorno do Pânico
Caracterizado pela presença de ataques de pânico (presença de medo
intenso de morrer, associado a inúmeros sintomas autonômicos como
taquicardia, sudorese, tontura, falta de ar, dor no peito, dor
abdominal, tremores), seguidos de preocupação persistente de vir a ter
novos ataques (28).
Pouco observado em crianças pequenas, sua frequência aumenta bastante no
final da adolescência. Em 30% a 50% dos pacientes, observa-se o
desenvolvimento de agorafobia (esquiva de situações/locais de difícil
saída em caso de mal-estar ou ataque de pânico; por exemplo, locais
fechados como cinemas e aglomerações como entrada/saída da escola) (29).
4.2.1. Tratamento
Tanto o tratamento medicamentoso como o psicológico
para o TP em crianças e adolescentes baseiam-se em informações obtidas
com pacientes adultos ou em relatos de casos. Até o presente, não há
estudos controlados para o tratamento do TP em jovens. A TCC é o
tratamento de escolha para o TP com ou sem agorafobia e inclui exposição
à situação fóbica, reestruturação cognitiva e treino de relaxamento.
Diversos estudos abertos e relatos de casos reforçam o uso dos ISRS ou
de benzodiazepínicos como tratamento medicamentoso do TP na infância e
adolescência (30).
4.3. Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)
Crianças com TAG apresentam medos e preocupações exagerados,
irracionais, em relação a várias situações. Estão constantemente tensas e
dão a impressão de que qualquer situação é ou pode ser provocadora de
ansiedade. Preocupam-se muito com o julgamento de terceiros, em relação a
seu desempenho em diferentes áreas, e necessitam exageradamente que
lhes renovem a confiança, que as tranquilizem. Dificilmente relaxam e
apresentam queixas somáticas sem causa aparente, sinais de
hiperatividade autonômica (exemplo: palidez, sudorese, taquipneia,
taquicardia, tensão muscular e vigilância aumentada) (2, 16).
O início desse transtorno costuma ser insidioso. Muitas vezes, os pais
têm dificuldade em precisar quando começou e referem que o quadro foi se
agravando até tornar-se intolerável, época em que frequentemente
procuram atendimento (2, 16).
4.3.1. Tratamento
A abordagem cognitivocomportamental consiste basicamente em provocar
uma mudança na maneira alterada de perceber e raciocinar sobre o
ambiente e, especificamente, sobre o que causa a ansiedade (terapia
cognitiva) e em provocar mudanças no comportamento ansioso (terapia
comportamental). Os pais participam ativamente dessa terapia com
crianças, ao contrário do que é feito com os adultos que apresentam o
mesmo transtorno. Estabelece-se um acordo com a criança e seus pais de
que as perguntas exageradas não receberão resposta, reassegurando à
criança a necessidade disso para diminuir seu sofrimento. Assim,
parte-se do pressuposto de que quanto mais atenção se der ao
comportamento alterado (respostas tranquilizadoras ou agressivas na
tentativa de controlar a ansiedade da criança), maior a probabilidade de
reforçá-lo e ampliá-lo; ao contrário, mantendo-se a calma e
retirando-se a atenção do comportamento ansioso, ele tende a
extinguir-se (2, 24).
O TAG tem recebido pouca atenção dos pesquisadores em
psicofarmacologia pediátrica. Em estudos abertos, observou-se melhora
significativa dos sintomas, tanto com o uso de fluoxetina como de
buspirona (3). Três estudos controlados com ISRS, sertralina,
fluvoxamina e fluoxetina mostram a eficácia a curto prazo dos ISRS (26,
27).
4.4. Fobias específicas (FE)
Caracterizam-se pela presença de medo excessivo e persistente
relacionado a um determinado objeto ou situação, que não seja situação
de exposição pública ou medo de ter um ataque de pânico. Diante do
estímulo fóbico, a criança procura correr para perto de um dos pais ou
de alguém que a faça sentir-se protegida. Pode apresentar reações de
choro, desespero, imobilidade, agitação psicomotora ou, até mesmo, um
ataque de pânico (2, 24).
Dentre as FE mais comuns na infância, destacam-se as de pequenos animais, injeções, escuridão, altura e ruídos intensos (2, 14).
As FE são diferenciadas dos medos normais da infância por constituírem
uma reação excessiva e pouco adaptada, que foge do controle, leva a
reações de fuga, é persistente e causa comprometimento no funcionamento
da criança.
4.4.1. Tratamento
Para as FE, o tratamento mais utilizado tem sido a terapia
comportamental. Apesar de amplamente utilizada, há poucas publicações
sobre sua eficácia através de estudos controlados, com amostras de
tamanho razoável, com procedimento diagnóstico padronizado e seguimento
sistemático da evolução (31, 32).
Resumidamente, as técnicas utilizadas requerem exposição da criança
ao estímulo fóbico de maneira a produzir a extinção da reação exagerada
de medo. A técnica mais empregada é a de exposição gradual ao estímulo,
de acordo com uma lista hierárquica das situações ou objetos temidos.
Tratamentos baseados na exposição frequentemente são associados a outras
técnicas cognitivocomportamentais (“modelagem” – técnica com
demonstração prática pelo terapeuta e imitação pelo paciente durante a
sessão; manejo de contingências – identificação e modificação de
situações relacionadas ao estímulo fóbico, que não o próprio estímulo;
procedimentos de autocontrole e relaxamento).
O tratamento farmacológico das fobias específicas raramente é
utilizado na prática clínica e são poucos os estudos sobre o uso de
medicações nesses transtornos (30, 31, 32, 33).
4.5. Fobia social (FS)
Muito semelhante ao observado em adultos, a FS em crianças e
adolescentes caracteriza-se por medo persistente e intenso de situações,
nas quais a pessoa julga estar exposta à avaliação de outros, ou de
comportar-se de maneira humilhante ou vergonhosa. Em jovens, a ansiedade
pode ser expressa por choro, “acessos de raiva” ou afastamento de
situações sociais em que haja pessoas não familiares.
Crianças com FS relatam desconforto em inúmeras situações: falar em sala
de aula, comer na cantina perto de outras crianças, ir a festas,
escrever na frente de colegas, usar banheiros públicos, dirigir a
palavra a figuras de autoridade como professores e treinadores, além de
conversas/brincadeiras com outras crianças. Nessas situações, comumente
há a presença de sintomas físicos como palpitações, tremores, falta de
ar, ondas de calor e frio, sudorese e náusea (34).
4.5.1. Tratamento
Vários procedimentos cognitivocomportamentais são utilizados para o
tratamento de medo de situações sociais ou de isolamento social em
crianças. O tratamento cognitivo da FS foca inicialmente a modificação
de pensamentos mal adaptados que parecem contribuir para o comportamento
de evitação social. Diálogos internos negativos são comuns em crianças
com ansiedade social (exemplo: “todo mundo vai olhar para mim”; “e se eu
fizer alguma coisa errada?”) (32).
O tratamento comportamental baseia-se na exposição gradual à situação
temida (exemplo: uma criança incapaz de comer na cantina da escola por
se sentir mal e ter medo de vomitar perto de outras crianças tem como
tarefa de exposição a permanência diária na cantina por períodos cada
vez maiores, inicialmente sem comer e gradualmente comprando algum
lanche e comendo próximo a seus colegas).
Os ISRS são os medicamentos de escolha para o tratamento
farmacológico da FS. Dois estudos controlados mostram a eficácia a curto
prazo da fluoxetina e da fluvoxamina para jovens com FS (26, 27). Além
disso, relatos iniciais indicam que o benzodiazepínico alprazolam pode
ser útil na redução de evitações de situações sociais em crianças com
fobia social (35).
4.6. Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
Crianças e adolescentes são particularmente vulneráveis à violência e
abuso sexual. Experiências traumáticas podem ter impacto grave e
duradouro sobre eles. Considera-se o TEPT como fator de risco para o
desenvolvimento posterior de patologias psiquiátricas (36, 37).
Caracteriza-se o TEPT pela presença de medo intenso, sensação de
impotência ou horror em consequência à exposição a trauma extremo, como
ameaça de morte ou abuso sexual. A probabilidade do desenvolvimento do
TEPT relaciona-se à gravidade, duração e ao tempo de exposição ao evento
traumático. Evidenciam-se modificações intensas de comportamento, como
inibição excessiva ou desinibição, agitação, reatividade emocional
excessiva, hipervigilância, além de pensamentos obsessivos com conteúdo
relacionado à vivência traumática (em vigília e como conteúdo de
pesadelos). Observa-se, comumente, comportamento de esquiva a estímulos
associados ao evento traumático, associado a comprometimento das
atividades do paciente (36, 37). O paciente evita falar sobre o
ocorrido, o que parece perpetuar os sintomas, como frequentemente
acontece com todos os transtornos ansiosos. Crianças apresentam uma
dificuldade a mais, especialmente as mais jovens, que é a de compreender
com clareza e discorrer sobre o ocorrido (36). Em crianças menores, os
temas relacionados ao trauma são freqüentemente expressados em
brincadeiras repetitivas.
4.6.1. Tratamento
Existe alguma evidência sobre a eficácia da abordagem
cognitivocomportamental e da psicoterapia dinâmica breve no TEPT em
crianças e adolescentes, porém são poucos os estudos a respeito e, em
geral, restringem-se aos relatos de caso. Em crianças mais jovens, a
terapia deve utilizar objetos intermediários como brinquedos ou desenho
para facilitar a comunicação, evitando interpretações sem confirmações
concretas sobre o que ocorreu, mas fornecendo subsídios que permitam a
elaboração da experiência traumática (30, 36).
A TCC focaliza sobre o(s) sintoma(s)-alvo, com o objetivo de reverter
o condicionamento da reação ansiosa por meio da habituação ao estímulo.
O terapeuta deve auxiliar a criança ou o adolescente a enfrentar o
objeto temido, discursando sobre o evento traumático, orientando o
paciente a não evitar o tema ou os pensamentos relacionados (exposição
na imaginação) (36).
A experiência clínica com medicações em crianças e adolescentes com
TEPT reforça os resultados obtidos em estudos com adultos. Tanto os
antidepressivos tricíclicos (imipramina, amitriptilina), como os ISRS
parecem ser eficazes para os sintomas centrais do TEPT em adultos. Essas
drogas também têm sido utilizadas em jovens. Preocupações a respeito da
letalidade associada ao uso dos tricíclicos e à necessidade constante
da monitorização pelo eletrocardiograma podem levar ao médico a preferir
o uso dos ISRS aos tricíclicos (38). Além dos antidepressivos, apenas
um estudo utilizando o beta-bloqueador propranolol apresentou resposta
favorável em crianças com TEPT (39).
A psicopatia é uma anomalia
psíquica, um transtorno antissocial da personalidade, devido à qual, apesar da
integridade das funções psíquicas e mentais, a conduta social do indivíduo que
sofre dessa anomalia se encontra patologicamente alterada. As causas que se
encontraram do porquê da conduta psicopática indicam que, por serem indivíduos
relativamente insensíveis à dor física, quase nunca adquirem medos
condicionados, tais como o medo da desaprovação social ou da humilhação, medo
de que restrinjam suas más ações, medos esses que dariam a esses indivíduos um
senso do bem e do mal.
Anjos nefastos:
os tristes casos de psicopatia infantil
De
acordo com o psiquiatra Fábio Barbirato, chefe da Psiquiatria Infantil da Santa
Casa (RJ), as crianças podem apresentar traços de psicopatia já aos 3 anos de
idade. Pois é, aquela criança bonitinha brincando na praça, montando castelos
de areia, pode ser um psicopata em potencial.
Agora
vocês pensam: “Então uma criança de três anos seria capaz de algo tão hediondo?”,
e lhes direi que sim, mesmo que o padrão dos casos estudados seja de crianças
com mais de cinco anos, sete em sua maioria.
Creio
que uma das histórias mais chocantes de psicopatia infantil seja a de Beth
Thomas, que deu origem ao documentário Child of Rage (A Ira de um Anjo), no
qual, nas sessões com a menina de apenas 6 anos, é visível sua completa falta
de emoção e de empatia; São olhos azuis gélidos, e não expressam nada além de:
“Eu mataria mamãe e papai à noite.”. É assustadora a forma como Beth consegue
dizer que as pessoas tem medo dela, principalmente o irmão, pois ela o machuca
“muito”.
Porém,
a história de Beth Thomas possui ao menos uma explicação. Ela e seu irmão
perderam a mãe ainda bebês e, desde então, Beth sofria de graves abusos sexuais
de seu pai, gerando o Transtorno de Apego Reativo, que se deve por um
desenvolvimento de formas perturbadas e inadequadas em estabelecer
relacionamentos, além da falta de empatia (característica principal de um
psicopata).
Felizmente,
os irmãos foram levados para um lar adotivo, no qual seus novos pais fizeram de
tudo para dar amor a essas crianças – o problema é que os pais adotivos não
tinham noção do passado de Beth, então a princípio era difícil acreditar que
aquela menina de olhos azuis poderia estar por trás de acontecimentos estranhos
pela casa. Quando começaram a perceber que o ninho de passarinhos estava com
filhotes mortos, que facas estavam sumindo, e que o irmão de Beth surgia sempre
com machucados estranhos pelo corpo, eles passaram a prestar mais atenção no
comportamento da menina; então conseguiram enxergar que, de fato, Beth era um
risco para todos, e decidiram que a melhor solução (além do tratamento do
distúrbio) era trancar o quarto dela à noite.
Beth
Thomas é um caso de psicopatia infantil à parte, pois de acordo com o
documentário (bemoldfashioned) ela está curada e hoje em dia trabalha como
enfermeira. Dizem que Beth leva uma vida normal, mas isso não acontece sempre –
até me arriscaria a dizer que é raro – como podemos ver no caso de James
Bulger, a criança que chocou a Inglaterra.
No
dia 12 de fevereiro de 1993, Denise Bulger entrou com seu filho, James, de 3
anos, em um açougue dentro de um shopping na Inglaterra e, num piscar de olhos,
o pequeno James havia simplesmente desaparecido. Com o desespero da mãe, logo
os guardas do Shopping estavam à procura do menino, mas tudo acabou sendo em
vão. Já era tarde demais.
Enquanto
Denise estava no açougue, James foi atraído por outras crianças, Jon Venables e
Robert Thompson (ambos de 10 anos) e, de acordo com as câmeras de segurança,
pareciam mesmo estar à espreita – feito caçadores. James saiu com os meninos, e
o horror começa aí.
Jon
e Robert não só abusaram sexualmente de James, como tacaram tinta em seu olho
(como método de tortura), e o espancaram mais de 40 vezes com uma barra de
ferro, mostrando que o que aconteceu ali foi um ato suprassumo do hediondo. Só
que não pára por aí: Após matarem James, os garotos decidiram jogar seu corpo
nos trilhos de um trem.
O
cadáver de James Bulger foi encontrado dois dias depois do desaparecimento,
partido ao meio no trilho. O que chocou os médicos e a policia local foi o
abuso, tortura e a forma overkill de matar, por isso demoraram tanto a concluir
que os assassinos eram crianças. Você não espera que uma criança seja capaz de
pensar num ato desses, mas como se pode ver, crianças psicopatas não pensam
somente coisas perturbadoras, como acabam por realizá-las, também.
Sei
que é difícil digerir uma notícia dessas, então deixo vocês com o insight de
Fábio Barbirato:
“Não é fácil a sociedade
aceitar a maldade infantil, mas ela existe. Essas crianças não têm empatia,
isto é, não se importam com os sentimentos dos outros e não apresentam
sofrimento psíquico pelo que fazem. Manipulam, mentem e podem até matar sem
culpa.”
Agora
nos perguntamos: Aonde se encaixa o tão esperançoso trecho: “We are the world,
we are the children”?
Agressividade
na infância
Quem
convive com crianças sabe que elas exigem um grande gasto de energia, de nossa
parte, para atender suas necessidades, cuidá-las e educá- las. Quando se trata
de crianças agressivas se torna ainda mais difícil de lidar.
O
que é preciso entender é que, até certo ponto, a agressividade faz parte do
desenvolvimento dos pequenos.
Tanto
a agressividade quanto a existência de conflitos entre crianças costumam ter um
valor positivo, pois, têm papéis importantes na construção da identidade da
criança. E para que isso ocorra devemos procurar deixar as crianças resolverem
sozinhas suas discussões, sem nos preocuparmos muito com alguns empurrões.
Muitas vezes, depois de algum tempo, as próprias crianças resolvem seus
problemas e a intervenção de adultos pode acarretar em um conflito ainda maior,
mas que na verdade seria apenas passageiro e sem gravidade.
A
criança que recebe um empurrão de outra criança quando tira o brinquedo dela
estará aprendendo muito mais sobre como se relacionar com os outros do que a
criança que, ao ter a mesma atitude, é imediatamente interrompida por um
adulto. É muito importante termos consciência deste papel positivo que podem
ter os conflitos entre crianças da mesma idade.
No
entanto, de forma alguma devemos ignorar o ocorrido, pelo contrário, devemos
estar atentos para como ocorre à resolução dos problemas e a partir daí avaliar
a necessidade de uma intervenção. Por vezes, é preciso agir para controlar a
criança, por exemplo, quando a mesma agride a outra com violência. Neste caso,
o recomendável é conversar com as crianças, lhes oferecer outras opções, evitar
que qualquer uma delas se sinta injustiçada ou culpada e, sobretudo, não perder
a calma justamente quando elas perdem.
Não
podemos esquecer que estamos lidando com crianças e que em algum momento elas
precisarão de um adulto para aprenderem a se controlar.
Os
limites, também, são importantes e, muitas vezes, são as próprias crianças que
nos pedem esses limites. Elas testam os adultos, para ver até onde podem ir e
dependendo da reação desses, sentem-se mais seguras sobre o que pode ou não ser
feito.
A
melhor maneira de diminuir a agressividade das crianças é oferecendo-lhes um
ambiente agradável, harmonioso e sem qualquer hostilidade. Além disso, podemos criar
meios para facilitar a expressão simbólica da violência através de atividades
como desenhar, pintar, modelar, nos jogos, nas histórias que elas contam ou
inventam. Brincar com “arminhas”, também, é uma forma simbólica de expressão,
então, não devemos reprimir esse tipo de atividade ao mesmo tempo em que não
devemos estimulá-la.
Ao
proibir a violência de brincadeira, estamos nos arriscando a aumentar a
verdadeira agressividade.
Se
você convive com crianças agressivas e já tentou todas as alternativas supramencionadas
sem resultado ou se você observa atitudes excessivamente agressivas por
parte delas, pode ser a hora da ajuda de especialistas. Quanto mais cedo se
iniciar o tratamento, mais provável e rápido será o resultado.
Medo
Um
dos sentimentos mais primitivos que existe é o medo. Ele é um dos componentes
essenciais do instinto de sobrevivência e está presente em todos os seres
vivos. As plantas sentem medo. Quando percebem que estão diante a algum tipo de
ameaça à sua integridade elas liberam comunicadores químicos, semelhantes aos
hormônios, para comunicar às outras plantas e aos animais e insetos para que
possam lhe ajudar. Por exemplo, uma planta que está sendo atacada por pulgões
libera um comunicador químico que atrai os predadores desses insetos.
Que
animais também sentem medo não há dúvidas. Basta observar um encontro casual
entre um filhote de gato com algum cachorro. O animalzinho fica todo encolhido
e arrepiado ao ver seu inimigo em potencial. Mas então, o que difere o medo que
nós seres humanos sentimos do medo dos animais?
O
primeiro elemento é a presença do medo na ausência do objeto causador do
sentimento. O gato do exemplo sente medo do cachorro ao vê-lo. Ele não deixará
de sair de casa por medo de que tenha um cachorro na esquina. Já os homens
sentem medo mesmo que a situação de risco não esteja presente. Uma pessoa deixa
de ir na padaria às dez horas da noite por medo de ter um ladrão na rua. O medo
dos humanos antecipa a situação de risco, o dos animais só se apresenta diante
dela.
Outra
diferença importante é que animais e plantas só sentem medo de objetos
concretos. Um sapo sente medo de uma cobra. Ela está ali, diante dele e ele
sente medo. Já os homens sentem medo de coisas abstratas. Há quem sinta medo do
futuro, do amor (ou da falta dele), da solidão, do vazio, de errar, enfim, as
pessoas são capazes de sentir medo das coisas mais impalpáveis e, muitas vezes,
improváveis.
Sentir
medo é algo saudável, extremamente importante para a manutenção da vida. Se não
houvesse esse sentimento as pessoas se exporiam a várias situações perigosas e
desnecessárias. Contudo, o medo exagerado pode paralisar. É importante
identificar até onde o medo que se sente é um instinto de sobrevivência que
está beneficiando sua vida ou é algo que tem te impedido de caminhar. Como
diria Platão “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a
real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”.
O Medo é
uma sensação estranha que proporciona um alerta demonstrado pelo receio de fazer
alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, psicologicamente ou
fisicamente.
O coração
bate mais forte, as pernas podem ficar bambas e é iniciada uma descarga de
adrenalina no corpo, uma atenção exagerada a tudo que ocorre ao redor…
Basta ter
um estímulo físico ou mental (Imaginação, Crenças, Interpretação) para que a
resposta seja gerada no organismo. Em seguida, hormônios do estresse
(adrenalina,cortisol) são liberados preparando a pessoa para lutar ou fugir.
Mas, vale
lembrar que antes do medo a pessoa fica ansiosa e na ansiedade a pessoa teme
antecipadamente o encontro com a situação ou objeto que lhe causa medo. Sendo
assim, é possível traçar uma escala de graus de medo, no qual o máximo seria o
pavor e o mínimo, uma leve ansiedade.
O medo é
sem dúvida nenhuma um grande inimigo e deve ser combatido imediatamente, pois
ele pode estar por trás de seus fracassos, dos seus desânimos, problemas com
relacionamento e até financeiros.
As
pessoas têm medo do seu passado, do futuro incerto, de envelhecer e até de
morrer. São pensamentos e mais pensamentos e se você analisar com calma, está
tendo medo de seus pensamentos!
Lembro
que minha filha tinha muito medo de dormir com a luz apagada. O medo dela era
tão grande que se eu insistia, ela mal conseguia falar e tremia muito. Quando
eu apaguei a luz e com uma lanterna fizemos um tour pelo seu quarto, entrando
em baixo da cama e ali ficando, o medo desapareceu. Ela se curou de um
pensamento falso, algo que alguém disse ou talvez um filme que viu.
Ralph
Waldo Elerson, filósofo e poeta, disse: Faça aquilo que você receia e a morte
do medo será certa.
Nestes
anos de consultório, tenho encontrado muitas pessoas com medo. Alguns com medo
de altura, outros com medo de dirigir, mas a maioria com medo de viver. São
pessoas que odeiam seu trabalho, mas elas têm medo de pedir demissão e nunca
mais conseguir outro. Pessoas que não mudam de carro, pois relatam que a crise
pode vir e não terão como pagá-lo.
Conheci
um casal que estava na iminência de se separar. Ele trabalhava muito e não
aceitava o fato de parar, pois tinha medo de ficar sem dinheiro e a família
passar por alguma necessidade. Durante 25 anos não percebeu que seu medo diário
o envelheceu, tirou dele parte de sua saúde e estava destruindo seu casamento.
Alguns dizem
que o medo é necessário, que ele nos limita a não cometer alguns erros. Mas o
excesso pode nos levar a estagnação, a não conquistar, a não mudar, a não
encontrar o equilíbrio.
Quando o
medo toma conta de nossos pensamentos, simplesmente focamos a atenção no medo e
deixamos de ver as possibilidades que estão ao nosso redor.
Eu
aprendi muito com as pessoas que eu atendi e o maior aprendizado foi estudar as
possibilidades diante do medo. Quando seus pensamentos são tomados pelo medo, o
mais indicado é você parar tudo e estudar a origem deste pensamento… Por que
está com medo? O que está acontecendo em sua vida para que tais pensamentos se
façam presente? Talvez o ideal seja pegar uma folha de papel e colocar seu medo
em um círculo e colocar ao lado as possibilidades de destruir tal sentimento.
Não
podemos permitir que o medo tome conta de nossas vidas e simplesmente nos
proíba de conquistar algo maior, impedindo que possamos viver com satisfação e
alegria.
A vida é
feita de escolhas e muitas pessoas preferem se acovardar diante dos seus medos
e obter ganhos secundários, do que descobrir a origem e lutar para destruir tal
sentimento.
Às vezes
é mais fácil deixar para depois, permanecer no automático da vida e arrumar
desculpas para não realizar!
Eu
acredito que superar, vencer, crescer é muito mais gostoso. Libertar-se deste
sentimento é como tirar as correntes dos pés e descobrir que podemos muito
mais…
Medo de
quê?
Faça uma
profunda reflexão de sua vida e deixe que seus medos partam para sempre!
Se
precisar de ajuda, eu estou à sua disposição!
Fobia
medo exagerado...
Medo
irracional, exagerado e persistente, de algum objeto ou situação. A exposição
ao estímulo fóbico invariavelmente gera ansiedade extrema, medo e podem ocorrer
ataques de pânico.
A
maioria dos fóbicos tem a noção de que este medo é exagerado, mas
incontrolável.
Existem vários tipos de
fobias específicas:
Fobias de insetos e outros animais geralmente começam na infância, bem
como as fobias de insetos, bichos, animais, tempestades e outros estímulos
ambientais, túneis e pontes.
Fobias de situações também
se desenvolvem em adultos como por exemplo fobia de voar após
um vôo particularmente turbulento e aterrorizante.
Fobias sociais geralmente
se desenvolvem na adolescência, algumas vezes após um
episódio social embaraços. No entanto, muitas pessoas com fobias sociais
relatam um sentimento geral de desconforto em várias situações sociais durante
toda sua vida.
Sintomas
Medo excessivo descontrole
e sintomas de ansiedade: taquicardia, sudorese, medo paralisante, sensação de
que vai desmaiar, angústia, aversão, pânico, entre outros.